Artigo elaborado pela Dra. Maria Estela Shiroma, Médica Generalista graduada pela Universidade Federal Fluminense, atuou como Médica da Família em São Paulo e com Residência Médica em Pediatria.
Atualizado em Janeiro 2024
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estabelece adolescência como o período da vida compreendido entre 10 e 19 anos de idade, já o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) refere uma idade entre 12 e 18 anos, mas, independente da divergência na faixa etária encontrada, o adolescer é uma fase difícil, tanto para os adolescentes, quanto para os pais deles.
É um período conturbado, com inúmeras mudanças as quais nos geram muitas dúvidas, mas que nem sempre conseguimos saná-las apropriadamente. Há uma explosão de hormônios em nosso corpo e tudo se torna muito mais intenso, inclusive a sexualidade.
Em 2010, já tínhamos quase ¼ de gestantes adolescentes da totalidade de gestações no ano. E aí iniciamos mais essa nova jornada, essa nova mudança…
Aqui você encontra:
Tô grávida… e agora???
A gravidez é um período, no mínimo, especial na vida de qualquer pessoa, e não especifico gênero aqui porque os homens acabam “engravidando” junto com a mulher a partir do momento em que ambos participam do processo.
Quando a gestação ocorre no período da adolescência, o especial passa a ser encoberto por medos, questionamentos, dúvidas, entre outros sentimentos e sensações que tomam conta da futura mãe… como será que o parceiro irá reagir?
Os pais irão aceitar, entender, acolher? E os estudos, como ficarão? Tenho que parar de estudar? Trancar a faculdade? Vou poder fazer uma faculdade? Meu corpo vai ficar deformado? O que as pessoas, colegas, vizinhos, amigos irão falar? Como cuidar de uma criança? Para quem posso contar sobre a gravidez?
Vamos começar respondendo o mais importante: “para quem posso contar sobre a gravidez?”… Inicialmente, a família e o pai precisariam saber, mas se o medo for muito grande, existem postos de saúde espalhados pelos bairros de todo o país que podem acolher essa nova demanda.
Então sim… o profissional da saúde será a melhor pessoa a acolher e orientar a respeito de como se levar uma gestação da maneira mais saudável possível. No geral, a rede pública de saúde oferece todo um pré-natal seguro e com a suplementação básica para qualquer gestação. O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece todo o acompanhamento gestacional, desde o teste de gravidez, até o parto.
Mas, o que é pré-natal?
Dies natalis é uma expressão do latim que significa “dia do nascimento de alguém”. O chamado pré-natal (o que vem antes do nascimento) é a assistência prestada à gestante durante o período de gravidez, até a hora do nascimento da criança, e visa melhorar e evitar problemas para a mãe e para a criança nesse período, por isso, quanto antes ele se iniciar, melhor será para todos.
→ O profissional da saúde, faz as contagens em semanas durante todo o período da gestação!
É, idealmente, conduzido por profissionais das áreas da enfermagem e da medicina, podendo contar com outros profissionais da saúde.
O SUS preconiza um mínimo necessário de 6 consultas de pré-natal distribuídos ao longo de toda a gestação: preferencialmente, uma no primeiro trimestre, duas no segundo e três no terceiro trimestre da gestação, mas protocola como ideal, consultas mensais até 32 semanas de idade gestacional, quinzenais entre 32 e 36 semanas de idade gestacional e acima de 37, consultas semanais e deve ser iniciado preferencialmente, antes das 12 semanas de idade gestacional.
Todas as gestações consideradas de baixo risco podem ser acompanhadas por um profissional médico generalista e/ou por um enfermeiro, sendo, o mais recomendado, por ambos.
Contudo, há algumas exceções…
Se, por ventura, uma gestação apresentar alguns riscos ou à mulher, ou à criança, o pré-natal deverá ser acompanhado por um especialista no assunto, que inicialmente será a equipe obstétrica, ou seja, especialista na questão de nascimentos.
Uma gravidez em uma adolescente, principalmente com menos de 15 anos, é considerada de risco intermediário a alto, sendo assim, muitos locais do país concordam em encaminhá-las a um serviço mais especializado em que a gestante irá realizar seu acompanhamento de pré-natal com a equipe citada.
Uma paciente sob uso de drogas, independente da idade, ou na existência de qualquer doença prévia ou adquirida durante a gestação também serão melhor acompanhadas por essa equipe.
Durante as consultas de pré-natal, serão avaliadas as histórias de cada gestante, seus cotidianos, a existências de doenças prévias ou familiares, ou ainda de antecedentes obstétricos, ou seja, se a mãe já teve outra gestação, se teve algum aborto ou filhos falecidos.
O exame físico é também direcionado ao crescimento adequado da criança ou ao aparecimento de doenças durante o período gestacional. Acompanhamos o ganho de peso, a estatura, a pressão arterial que também é um ponto fundamental, avaliam-se as mamas e mamilos, a presença ou não de inchaços, o estado nutricional e os hábitos alimentares.
Com o passar das semanas na gestação, passamos a mensurar a altura uterina, pois esta medida nos mostra boa parte do desenvolvimento da criança, verificamos ainda os batimentos cardíacos, além do seu posicionamento, se está de cabeça para cima ou para baixo, se está sentada ou não, para a direita ou esquerda da mãe.
Como complemento, são realizados exames de sangue e de urina recorrentemente, afim de se identificar a tipagem sanguínea da mãe para que não haja interações entre o sangue da mãe e da criança, acompanhar o desenvolvimento de anemias, infecções, entre outras comorbidades as quais possam prejudicar o desenvolvimento do bebê.
O Ministério da Saúde não torna obrigatória a solicitação de ultrassonografia obstétrica, mas a Febrasgo (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia) recomenda a realização de ultrassonografias no período de pré-natal se assim o puderem realizar, sendo recomendado realizar entre 11° e 13° semanas de idade gestacional a fim de identificar o número de fetos e se há possibilidades da existência de síndromes genéticas e outra entre 20° e 24° semanas de idade gestacional para verificar a existência de mal formações ou anomalias congênitas.
Outros exames de suma importância são o exame direto de secreção vaginal, para verificar a existência de infecções que possam proporcionar o parto prematuro ou até mesmo a morte fetal ainda no útero, o citopatológico cervical, famoso “Papanicolau”, que consegue detectar lesões que podem evoluir para o câncer de colo de útero e a pesquisa ativa de uma bactéria que possa causar sepse precoce na criança ao nascimento por parto natural, conhecido popularmente como “teste do cotonete anal e vaginal”.
Sobre as medicações utilizadas, preconiza-se o uso de ácido fólico no início da gestação para que se feche adequadamente o sistema nervoso central da criança, o uso de reposição de ferro para a anemia que já é esperada durante o período na gestante, reposições vitamínicas quando necessário e tratamentos específicos também quando houver necessidade. Além disso, as vacinas das adolescentes também serão checadas e atualizadas conforme necessidade.
Outro ponto importante é o acompanhante da gestante às consultas de Pré-Natal!! Claro que a presença do pai é fundamental, contudo, se a mãe dela puder estar presente nas consultas e ajudá-la com a organização da realização dos exames, com a administração das medicações e vitaminas necessárias é ainda melhor. O esquecimento também faz parte desse período e não apenas para a adolescente, como para toda gestante, além disso, fortalece o vínculo mãe-filha-neta. Claro que isso é apenas sugestão!!!
Porém, este é o contexto ideal… na prática sabemos, que mães adolescentes tendem a temer a reação, principalmente dos pais e, por isso, tendem a esconder a gravidez o quanto puderem, ocasionando no início tardio do acompanhamento Pré-Natal.
Muitas gestantes só iniciam o acompanhamento com um profissional da saúde com mais de 30 semanas de idade gestacional e, sendo uma gestação de risco, tendem a várias complicações ao final da gestação e ao momento do parto. E isso nos leva a problemas não apenas médicos, como também, biopsicossociais.
Principal problema… Tentativas de finalizações
O que podemos entender sobre esse título? Independente das minhas questões ideológicas sobre o assunto, o aborto em nosso país é liberado apenas em circunstâncias específicas que são para salvar a vida da mãe, anencefalia (simplificando: criança que não possui o cérebro ou formação cerebral) ou gestação decorrente de estupro.
Aborto é aquilo que é eliminado quando da interrupção de uma gravidez, pode ocorrer por causas naturais, que são os chamados abortos espontâneos, ou pode ser provocado, quando ocorrido por ação voluntária de uma pessoa com ou sem ajuda… e aí se encontram os maiores problemas.
Muitas adolescentes, em um ato impensado, de desespero, medo e ansiedade, optam por realizar abortos com medicações que encontram na internet, ou por fatores físicos que agridam seu corpo, ou ainda em clínicas clandestinas que não possuem condições adequadas para tal.
Enfim, hoje, existem várias formas de se interromper a gestação clandestinamente, contudo, isso provoca abortamentos mal feitos que podem não levar ao aborto de fato e ainda colocar a vida da mãe em risco. Além disso, em alguns casos ainda, muitas tentativas frustradas de aborto, podem levar a mal formações fetais que serão carregadas por toda a vida da pessoa.
E neste tópico, torno a ressaltar, não coloco minha opinião sobre o assunto, mas deixo aqui minha preocupação na forma como são realizados os abortos, de maneira impensada, colocando a vida de ambos em risco.
Infelizmente, a questão do aborto ainda é pouco discutida em nosso país, mas frente a essa escassez de discussões, o que podemos fazer em relação a isso é: se sou mãe ou pai desta adolescente que engravidou, apoiá-la incondicionalmente, sem julgamentos e acompanhar esse momento mágico que é a gravidez ou, se sou a adolescente grávida, procurar apoio, seja inicialmente no âmbito familiar, seja nos centros de saúde mais próximos para que consigamos nortear suas próximas decisões e ajudar e orientar da melhor maneira possível.
Trata-se de uma fase difícil, e que não deve ser levada sozinha, sem apoio de pessoas que se preocupam com seu bem estar. Conflitos, brigas, choros poderão ocorrer inicialmente, mas com o tempo, tudo se ajeita e a recepção desta criança que está por vir poderá ser feita da melhor maneira possível.
Mas e agora, como ficará meu corpo?
Uma vez optado por levar uma gestação com acompanhamento de profissionais da área da saúde, saber quais as transformações que ocorrerão em seu corpo é a melhor forma para não se ter surpresas e para não entrar em desespero desnecessariamente.
Claro que o profissional falará sobre as mudanças corporais no decorrer das consultas, ou sanará suas dúvidas individualmente, pois nem todas as alterações no corpo das gestantes serão iguais para todas ou mesmo ocorrerão em todas as mães. Então, vamos a algumas curiosidades!!!
… Vou vomitar muito??
A melhor resposta é: depende!!! A tendência é que sim, contudo, existem mulheres que não sentem nada, nem náuseas, nem enjoos, e menos ainda chegam a vomitar. Naturalmente, com o aumento uterino, ocorre o deslocamento leve do estômago e do intestino, além disso, há ainda uma lentificação do trânsito dos alimentos e isso tende a gerar tais desconfortos. Mas, como disse, nem todas as mulheres o sentem.
… É verdade que minha pele ficará manchada e terei estrias??
Sim… o crescimento rápido e progressivo de algumas áreas do corpo promove um estiramento que leva ao surgimento do que chamamos estrias. E a alteração do padrão hormonal estabelecido pela gravidez promove alterações em glândulas existentes na pele que promoverão algumas mudanças tanto na pele propriamente dita, quanto nos vasos presentes nela.
- As estrias, que são resultado da diminuição da hidratação e do estiramento da pele, podem aparecer no abdome, nas mamas, coxas e nádegas. Inicialmente elas serão avermelhadas e após o parto, vão se tornando mais brancacentas. Se a adolescente estiver na sua 2° ou mais gravidez, podem ainda aparecer algumas linhas de tonalidade acinzentada, que são as estrias de gestações anteriores. E o que devo fazer??? Hidratar a pele é a melhor solução, mas não impedirão o surgimento delas e nem levarão ao seu desaparecimento.
- Vermelhidão na superfície palmar, ocorre em até 70% das mulheres e desaparece após a gravidez. Isso acontece por ação da vasodilatação imposta pelo padrão hormonal da gestação.
- Podem surgir também alguns vasinhos que se ramificam de um central, são levemente elevados, podendo surgir na face, pescoço, parte superior do tórax e nos braços. Assim como a vermelhidão, tendem a desaparecer após a gestação.
- Esse novo padrão hormonal interfere também na produção de melanina, que é uma substância que dá cor a nossa pele. Ocorre uma estimulação da produção da melanina, que associada à exposição solar, gera uma pigmentação mais acastanhada na linha média do abdome, conhecida como linha nigrans e na face, conhecida como melasma gravídico.
- O aumento da progesterona durante a gestação, promove ainda um aumento da oleosidade da pele, promovendo a queda de cabelo e o surgimento de mais acnes.
… Minhas mamas vão aumentar?? Isso vai doer?
A gestação necessariamente nos remete à amamentação!!! Sendo assim, é natural que as mamas tendam a se transformar também. Com o início da gestação, o corpo inicia um processo de aumento das glândulas e ductos que são responsáveis pela produção e transporte do leite (das glândulas até a boca da criança) e isso pode gerar algum incômodo proporcionado pelo aumento dos mesmos, chamado também como mastalgia.
Pode ser ainda que a aréola e os mamilos tornem-se um pouco mais escurecidos, também por maior pigmentação relacionada ao novo padrão hormonal.
… Já vi grávidas com falta de ar, isso é grave??
Com a evolução da gestação, muitas mães referem uma leve falta de ar, que pode ocorrer tanto pelo novo padrão hormonal, quanto pela própria anatomia da gravidez, pois o aumento abdominal promove uma menor expansão da caixa torácica e, consequentemente dos pulmões, dificultando a respiração. Isso pode ser normal… porém, deve ser sempre relatado ao médico para que o mesmo verifique se realmente é um processo esperado pela gestação ou não.
… E a dor nas costas?
Também com o avançar da gravidez, o aumento abdominal passa a se tornar mais importante, e isso necessita de ajustes tanto na coluna, quanto na base do corpo, ou seja, nos pés. Há um aumento da curvatura da coluna para compensar o aumento abdominal e a largura das passadas tendem a aumentar para compensar o aumento total do corpo. Com isso, as dores lombares tendem a surgir, além de algumas dormências nas extremidades também.
… O que preciso prestar atenção?
A gravidez promove o aumento de líquidos na circulação de nosso organismo, ocorre um aumento do que chamamos de plasma sanguíneo (faz parte do nosso sangue) e isso gera várias alterações como aumento da frequência cardíaca, alteração da pressão, algumas gestantes podem apresentar sopros cardíacos, inchaços principalmente nos pés e outras alterações. Além disso, essa alteração na circulação leva a uma anemia que chamamos de dilucional, que também é esperada na gravidez.
Todas essas alterações, independente de serem naturais do período gestacional, devem ser acompanhadas de perto pela equipe do Pré-Natal, pois uma alteração dessas, maior do que o esperado, necessitará de intervenção médica, seja com orientações, medicações ou até procedimentos específicos.
… No resto do corpo:
Pode ocorrer um aumento das idas ao banheiro para o famoso “xixi de grávida”, pode ainda apresentar alterações na glândula tireoideana, e alterações que chamamos de metabólicas… mas essas ficam mais a cargo do médico investigar, pois podem não apresentar sintomas.
Considerações Finais
Enfim, a gravidez é um momento único para mulher, principalmente para a adolescente. Mesmo que não seja a primeira gestação, cada uma será diferente da outra e não temos como prever o que de fato acontecerá com cada mulher!! Mas independente disso, a gravidez na adolescência é sim um momento muito delicado, mas podemos transformá-lo em mágico e especial quando aceitamos a gestação e recebemos apoio das pessoas que nos amam, enfim, será uma nova vida que se estabelecerá em nosso convívio e essa nova vidinha, merece chegar a esse mundo cercada de amor e carinho, com todos os cuidados de uma gestação planejada ou não!!! Seja firme e seja forte, pois essa criança que chegará te escolheu como mãe e acredita em sua capacidade de amá-la desde o início…
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