Artigo elaborado por Haline Dalsgaard – Nutricionista com foco em Nutrição Pediátrica e Alimentação da Família. Mestre em Nutrição Humana pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Idealizadora do Saúde no Prato.
Atualizado em Janeiro 2024
Até o primeiro semestre de vida, o bebê se alimenta única e exclusivamente de leite materno ou de fórmula láctea.
Introdução Alimentar ou Alimentação Complementar é o momento que oferecemos ao bebê qualquer alimento diferente do leite.
A Introdução Alimentar NÃO substitui o Leite Materno, apenas o complementa!
Aqui você encontra:
Quando e como iniciar a oferta de novos alimentos para o bebê
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o momento ideal para esta introdução é em torno dos 6 meses de vida, mantendo-se o aleitamento materno durante todo esse período.
Em alguns casos especiais, e apenas por orientação médica, pode haver a necessidade de introdução de alimentos um pouco antes do sexto mês, porém nunca antes dos 4 meses de vida.
É muito comum os pais e familiares ficarem ansiosos para oferecer alimentos para o bebê. Tenha calma! Logo, logo, esse momento vai chegar. Quanto mais essa introdução acontecer no tempo certo, menores serão os riscos de reações alérgicas e recusa alimentar.
A oferta de novos alimentos deve acontecer de forma lenta e gradual e respeitar a resposta da criança aos novos alimentos.
Não podemos esquecer que o bebê nunca teve o contato com outro alimento além do leite. Portanto, não sabemos ainda (e nem ele sabe) quais são as suas preferências.
Cada gosto, consistência, textura e temperatura serão completamente novos! E cada um tem seu tempo e sua forma de agir. Umas crianças iniciam ávidas por colocar o alimento na boca. Outras terão resistência a experimentar novos sabores. E é por isso que deve ser dedicado um tempinho extra para esse momento. Sem muita pressa e sem grandes expectativas.
E agora, chegou o tão esperado momento! Vamos começar?
É importante que a criança esteja bem e sentada para introduzir o alimento. Seja numa cadeirinha própria para alimentação ou até mesmo na cadeira da mesa da cozinha. É fundamental que a criança esteja segura, sem o risco de cair, e que se sinta bem confortável.
Iniciamos a introdução dos alimentos com as frutas (sem adição de açucares e nem adoçantes) no meio da manhã.
Após 1 semana, iniciamos o almoço e, na outra semana mais uma fruta no meio da tarde. De 15 a 30 dias tendo iniciado o almoço, incluímos o jantar. Tudo depende da aceitação e adaptação da criança à nova rotina de alimentação.
A partir do momento que outro alimento for introduzido além do leite materno, é fundamental oferecer água nos intervalos entre as refeições. Nos dias mais quentes essa oferta deve ser ainda maior.
FRUTAS
- Iniciar com 1 fruta da estação – ¼ a ½ unidade amassada no garfo ou raspada. Não se preocupe com a quantidade!
- Banana prata ou ouro, Maçã e Pêra – podem ser oferecidas cruas (amassadas ou raspadas), assadas ou cozidas.
- Abacate, Mamão e Manga – podem ser amassadas.
- Melão e Melancia – podem ser raspados.
- Frutas redondas como Morango ou Uva – usar protetor de alimento ou picar.
“As frutas também podem ser oferecidas cozidas, assadas ou na forma de compotas sem adição de açúcar ou qualquer tipo de adoçante. Essas preparações são formas úteis de conservar e aproveitar esses alimentos, evitando desperdício. Bananas muito maduras podem ser cozidas e render um purê; maçãs podem ser fatiadas e cozidas em um pouco de suco de laranja lima no lugar do açúcar”.
A Academia Americana de Pediatria publicou recentemente novas diretrizes em relação ao consumo de sucos por crianças que ainda não completaram um ano de vida. Segundo a entidade, sucos de frutas in natura e industrializados não oferecem benefícios nutricionais para os bebês e não colaboram com a saciedade.
PAPA PRINCIPAL
Para uma alimentação adequada, precisamos conhecer melhor os Grupos de Alimentos. A partir daí fica muito mais fácil entender como uma refeição pode ser completa e saudável, mas ao mesmo tempo com muita variedade de escolhas:
VEGETAIS (VERDURAS E LEGUMES)
Abóbora, abobrinha, acelga, agrião, alface, almeirão, berinjela, beterraba, brócolis, cenoura, chicória, chuchu, couve, couve-flor, espinafre, ervilha torta, mostarda, repolho, taioba, tomate e vagem.
RAÍZES, CEREAIS E TUBÉRCULOS
Aipim, arroz papa, aveia, batatas (baroa, doce e inglesa), inhame, massinhas (secas e bem finas “cabelinho de anjo”), milho.
PROTEÍNAS VEGETAIS
Feijões de todas as cores (branco, carioca, feijão-de-corda, feijão-fava, fradinho, jalo-roxo, mulatinho, preto, rajado, roxinho, vermelho), grão de bico, ervilha e lentilha.
PROTEÍNAS ANIMAIS
Carne bovina (alcatra, filé mignon, músculo, peito), frango (coxa, peito, frango (coxa, peito, sobrecoxa), pescados (filé de cação, tilápia, linguado, Saint Peter, salmão), ovo.
“Adicionar cerca de 1 colher (chá) de azeite no pratinho já pronto para complementar a oferta de energia”.
Para iniciar a introdução da refeição salgada, oferecê-la 1x ao dia (almoço). Na primeira semana é importante que os grupos de alimentos sejam introduzidos gradativamente, para que a criança se habitue com diferentes sabores e consistências, da seguinte forma:
Primeiros 5 dias:
Oferecer 1 alimento do grupo dos Vegetais (abóbora OU abobrinha OU beterraba OU cenoura OU chuchu OU brócolis OU couve-flor) + 1 alimento do grupo das Raízes (aipim OU batata baroa OU batata doce OU batata inglesa OU inhame).
6°, 7° e 8° dias:
Oferecer 1 alimento do grupo dos Vegetais + 1 alimento do grupo das Raízes + 1 alimento do grupo das Proteínas Vegetais (feijão OU ervilha seca OU lentilha seca).
9° dia em diante:
Oferecer 1 alimento do grupo dos Vegetais + 1 alimento do grupo das Raízes + 1 alimento do grupo das Proteínas Vegetais + 1 alimento do grupo das Proteínas Animais.
A partir da terceira semana deve ser oferecido 1 pedaço de fruta na sobremesa. A vitamina C da fruta ajuda na absorção de ferro dos alimentos e previne a anemia.
Após 2 a 4 semanas da introdução do almoço, o jantar já pode ser introduzido.
Quantidade e consistência ideal para iniciar a alimentação
Ao iniciar a introdução de outros alimentos além do leite, por volta dos 6 meses de vida, é importante que a quantidade de alimentos oferecida seja bem pequena e aumentada gradualmente de acordo com a aceitação da criança. Não há a necessidade de estabelecer quantidades fixas dos alimentos oferecidos. O leite materno pode fornecer metade ou mais das necessidades de uma criança de 6 a 12 meses de idade e cerca de um terço das necessidades de energia e outros nutrientes entre 12 e 24 meses. Por isso, a manutenção do aleitamento até os 2 anos de idade é recomendada.
Conforme os alimentos complementares vão sendo introduzidos, a frequência da mamada vai diminuindo ao longo do dia.
Confie na saciedade do seu bebê! O apetite de uma criança geralmente serve como um guia para a quantidade de comida que deve ser oferecida.
Hoje em dia muito se fala na “Alimentação Responsiva”. E o que seria isso?
A Alimentação Responsiva envolve estar atento às sensações de fome e, principalmente, saciedade do bebê, ter paciência e alimentá-lo lentamente, respeitando seu tempo. Envolve nunca forçar o bebê a comer.
A criança deve ser estimulada a ter seu próprio pratinho para que a quantidade de comida aceita seja percebida pelo seu cuidador. O uso de uma colher ou até mesmo a mão da criança (que deve ser lavada antes da criança ser alimentada) pode ser usada para a alimentação. Deixe que a criança segure o alimento quando tiver essa curiosidade.
A consistência mais adequada vai depender da idade e do desenvolvimento de cada criança. A partir de 6 meses, uma criança geralmente está apta a comer purês ou alimentos semissólidos. Por volta dos 8 meses, a maioria das crianças já conseguem comer alimentos em pedaços, caroços de feijão ou grãos bem cozidos e, aos 12 meses geralmente já podem comer a comida da família. É importante que estejamos atentos à evolução de cada fase da criança e evoluir a consistência dos alimentos gradativamente.
ATENÇÃO:
Crianças que demoram muito a receber alimentos em pedaços ou mais inteiros podem ter maiores dificuldades de alimentação mais tarde.
O que é o BLW ou desmame guiado pelo bebê
BLW são as iniciais de Baby-Led Weaning, que traduzido para o português significa o “desmame guiado pelo bebê”.
É uma técnica de introdução alimentar onde o bebê tem o seu desenvolvimento, ritmo e autonomia respeitados e consiste no ato do bebê conduzir sua alimentação com as próprias mãos.
Sem dúvida, a construção de um vínculo do bebê com o alimento deve ser saudável e natural. Ter a liberdade de tocar o alimento, sentir sua forma, sua textura, cheiros e sabores estimula a curiosidade e a aceitação do alimento.
O método traz muitas vantagens no desenvolvimento de habilidades motoras e o estímulo sensorial, trabalhando todos os sentidos: visão, olfato, paladar, audição e tato. Além disso, desenvolve a autorregulação no ato de mastigar e engolir. Porém, é fundamental que esse método de introdução alimentar seja completamente monitorado pelo cuidador, que deve ter a orientação do pediatra e do nutricionista antes mesmo de iniciar a oferta dos alimentos. O indicado é que as capacidades do bebê sejam avaliadas antes de iniciar qualquer introdução alimentar, e, principalmente o BLW.
A postura do bebê ao se alimentar deve ser observada. Crianças que não possuem a musculatura do abdome e das costas bem trabalhadas podem se desequilibrar durante a refeição e, com isso, podem correr maior risco de engasgar ou aspirar o alimento (broncoaspiração).
Os pais, ao decidirem adotar essa forma de introdução alimentar devem estar bem orientados e conscientes de todo o processo. Observar os sinais de prontidão da criança (sentar equilibrado e ser capaz de movimentos equilibrados com as mãos) é fundamental. Além disso, a ansiedade dos pais e/ou cuidadores deve ser bem trabalhada de forma a não transformar o processo da alimentação em algo traumático e ruim.
Para oferecer os alimentos é recomendável cortá-los em pedaços grandes para que o bebê possa pegar com as duas mãos. Inicialmente, o bebê ainda não tem o reflexo de “pinça”, ou seja, ainda não consegue juntar o indicador com o polegar para segurar o alimento.
Alimentação a partir de 1 ano
Saber se seu filho está comendo bem e saudável é, sem dúvida, o desejo de todos os pais. É muito comum surgirem dúvidas sobre como prosseguir com a alimentação da criança após 1 ano de vida. Será que a criança já pode comer de tudo? O que deve ser evitado? A criança já pode comer a comida da família?
É claro que uma completa e saudável alimentação após os 12 meses vai ter uma relação direta com a forma que a introdução alimentar foi feita. Se a variedade alimentar foi bem trabalhada e a consistência dos alimentos evoluída de acordo com o desenvolvimento da criança, grandes são as chances da criança aceitar bem novas preparações e se adaptar à rotina e cardápios da família.
A comida já pode ser a mesma da família, desde que seja uma alimentação variada e equilibrada, preparada com pouco sal e sem o uso de ultraprocessados e frituras.
ALIMENTOS QUE PODEM SER INTRODUZIDOS:
LEITE: o leite materno ainda é o alimento preferido no primeiro ano de vida, mas a partir dessa idade outros tipos de leite e derivados já podem fazer parte da alimentação, principalmente quando utilizados em receitas e preparações caseiras.
TEMPEROS NATURAIS: alho, cebola, alho poró, condimentos naturais podem usados no preparo dos alimentos. O ideal é usar sempre temperos caseiros preparados com uma pequena quantidade de sal. Não é indicado o uso de nenhum tempero industrializado.
SUCOS: sucos e água de coco podem ser oferecidos em pequena quantidade (100 ml/dia). As frutas “in natura” devem ser estimuladas. Os sucos devem ser da fruta, sem coar e sem adição de açúcar.
ALIMENTOS QUE NÃO DEVEM SER USADOS:
AÇÚCAR E DOCES: o açúcar de todos os tipos (branco, mascavo, demerara, mel, melado, açúcar de coco, xilitol, …), doces e alimentos açucarados ainda devem ser evitados. Esse sabor deve ser provenientes apenas de frutas frescas ou secas, as quais podem ser usadas para adoçar receitas de forma natural.
ULTRAPROCESSADOS: preparações prontas como lasanhas, nuggets e até mesmo biscoitos também não devem ser oferecidos nessa fase.
FRITURAS: todos os tipos de frituras devem ser evitados na alimentação da criança de 1 ano. Alimentos fritos dão maior saciedade e podem causar uma alimentação incompleta, além de estimular o paladar para preparações gordurosas, podendo contribuir para o excesso de peso.
De 12 a 24 meses a criança irá passar por vários momentos de descoberta e fases de crescimento diferenciadas. Isso pode alterar o apetite e até mesmo causar o desinteresse por um ou outro alimento.
É importante saber que o paladar da criança ainda não está completamente desenvolvido nessa fase e, portanto, se há a recusa por um ou outro alimento, não force a sua aceitação, ofereça novamente em 2 ou 3 dias. E se necessário, ofereça de uma forma diferente: a cenoura ralada ao invés de cozida, um arroz colorido, um suflê com legumes, …
Para te ajudar nessa nova jornada, segue umas dicas de montagem das refeições nessa fase:
MONTAGEM DO PRATINHO
1 vegetal cozido (agrião, bertalha, brócolis, couve, espinafre, repolho). Pode ser acrescentado no feijão no momento de colocar no prato
+
1 legume cozido (abóbora, abobrinha, beterraba, cenoura, chuchu, couve-flor)
+
1 alimento do grupo da energia (arroz branco, arroz com legumes, arroz com quinoa, batata inglesa, batata doce, batata baroa, aipim ou inhame)
+
1 tipo de feijão (preto ou mulatinho ou carioca ou branco ou vermelho) ou ervilha ou lentilha ou grão de bico
+
1 proteína – pedaço do tamanho da palma da mão da criança (filé de frango grelhado OU bife grelhado OU filé de peixe grelhado OU omelete OU carne assada OU rosbife OU hambúrguer caseiro)
Sobremesa
1 fruta
A quantidade vai depender de cada criança. Sempre importante observar a aceitação da criança e acompanhar os gráficos de crescimento e ganho de peso.
OPÇÕES PARA O LANCHINHO DA TARDE:
- Uma fruta com aveia em flocos.
- Uma crepioquinha.
- Pão de queijo caseiro.
- Bolinhos caseiros usando frutas secas para adoçar.
- Panquequinha de banana.
- Pãezinhos caseiros ou de fabricação própria do mercado ou padaria com queijo.
- Milho verde debulhado.
- Iogurte natural com fruta.
O ideal é que o cardápio semanal seja bem variado tanto na oferta de sabores quanto de nutrientes. Assim, a criança aprenderá a ter hábitos alimentares saudáveis.
Aproveite esse momento para tornar a alimentação da família muito melhor!
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